sábado, 11 de agosto de 2007


- Por que é importante comemorar o bicentenário de Teófilo Otoni?
NM -
A comemoração do bicentenário de Teófilo Benedito Otoni é uma excelente ocasião para resgatar para a história quem foi ele e qual a sua real importância. Ele foi uma figura de destaque não só para as cidades do Serro (onde nasceu) e de Teófilo Otoni (que fundou), mas também para todo o Vale do Mucuri e do Jequitinhonha, para Minas Gerais e para o Brasil. Mas, de modo especial, é muito importante que os cidadãos destas regiões e de Minas conheçam a sua história. São dezenas de municípios que de alguma forma participaram junto com Otoni desta epopéia que aconteceu no século XIX: a independência do Brasil, a criação do estado brasileiro, as revoluções em defesa da liberdade e a construção do projeto do Mucuri.

- Teófilo Otoni teve uma vida política intensa. Qual foi a importância dele para a história de Minas?
NM -
Em Minas Gerais, ele foi Vereador, Deputado Provincial, Deputado Geral e Senador. Em toda movimentação política ele representava ativamente o Estado e participou de revoluções pela democracia e pela liberdade, sendo figura central em todas elas. Enquanto todos os grandes projetos de desenvolvimento ocorressem no litoral, ele pensava e implementava projetos para o interior do país. Ele participou do movimento pela nossa independência, pois queria que o Brasil tivesse um futuro diferente. Ele queria que fosse aplicado um modelo avançado e moderno para a época, com a implantação do sistema republicano e a abolição da escravidão.

- O que foi o projeto da construção das Colônias do Mucuri?
NM –
Toda a região do Mucuri fazia parte originalmente da comarca do Serro, passando depois à comarca de Minas Novas. A criação das Colônias do Mucuri tinha entre seus objetivos promover a integração desta parte de Minas, que hoje chamamos de Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, e para que ela pudesse escoar seus produtos locais através do mar. Na época em que a colonização foi concretizada, toda a comunicação era feita através de estreitos caminhos, no lombo dos burros. Uma carta demorava 29 dias para ir da região até o Rio de Janeiro, que era a capital. Com a colonização do Mucuri, este tempo passou a ser de 12 dias. As cargas levavam 80 dias para chegar ao Rio e passaram a gastar apenas 20 dias. Portanto, o projeto foi muito importante para todas as cidades e vilas da região, como Serro, Minas Novas, Diamantina, Peçanha, Guanhães, etc.
Este foi um projeto muito moderno para a época, pois dinamizou a economia dos principais municípios do nordeste do estado. Foi construída a estrada Santa Clara-Filadélfia, com 180 quilômetros e muito bem feita, com menos de 5% de declividade. Na sede das colônias havia o porto do rio, que permitia a navegação fluvial até o mar. O navio a vapor da Companhia transportava até o Rio de Janeiro pessoas e mercadorias da região.

- Por que falar sobre ele é importante hoje para o país?
NM -
Resgatar a história é imprescindível, pois até hoje o Brasil tem conquistas republicanas a alcançar que já eram vislumbradas pelos projetos de Teófilo Benedito Otoni, como a separação entre o público e o privado. Seus projetos ainda são exemplos para os dias de hoje, como a integração do Mucuri/Jequitinhonha com o resto do país através do transporte inter-modal (rodovias, ferrovias, navegação fluvial e marítima), que garantiu promoção social, econômica e política para 200 mil pessoas da região, uma super população para a época. Até hoje a pouca integração entre certas regiões do país que estão defasadas em relação às outras continua sendo um problema; ainda carece de projetos regionais que podem se inspirar no exemplo de Otoni.
Ele foi um vanguardista, um homem à frente do seu tempo. Propôs projetos e desenvolveu outros que ainda permanecem atuais. Ele foi o mais importante político do país de 1860 até a sua morte. Embora a história oficial o tenha esquecido, hoje sabemos que é um personagem que deve ser reconhecido e esta será uma grande oportunidade para reapresentá-lo às novas gerações de mineiros e brasileiros.

- Que comemorações estão preparadas para o bicentenário?
NM – O dia central das comemorações é 27 de novembro, data do nascimento de Otoni, mas as atividades já estão começando. No dia 23 de agosto o Ministro das Comunicações, Hélio Costa, vai a Teófilo Otoni para lançar o “Selo do Bicentenário”, já que o projeto de colonização do Mucuri tinha, dentre seus principais objetivos, a melhoria da comunicação entre o norte de Minas e o resto do país. No Serro, serão realizados seminários em parceria com a PUC-Serro e já começam a acontecer atividades culturais com a participação das escolas.
Em Teófilo Otoni, onde já existe uma “Comissão do Bicentenário”, serão realizados, de 21 a 27 de novembro, cursos, concursos, festivais, palestras e um seminário no Campus da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Talvez o campus de Diamantina também participe. Serão realizadas sessões especiais na Assembléia Legislativa de Minas, onde ele foi deputado. Existem duas entidades representativas importantes - a Associação dos Amigos do Serro (AASER) e a Associação dos Filhos e Amigos de Teófilo Otoni (AFATO) que também estão se preparando para participar. Em Brasília já está confirmada a sessão solene no Senado, no dia 29 de novembro e uma na Câmara dos Deputados, no dia 22 de novembro. A maioria dos eventos será concentrada no dia 27 de novembro e há até a expectativa da presença de ministros e deputados de várias regiões do estado e do país.

- Como será o livro que você está escrevendo sobre a vida e a obra de Teófilo Otoni?
NM -
Escrever esse livro era um desejo antigo e pessoal. Fui criado na cidade de Teófilo Otoni e conheço a história dele desde que era adolescente. Eu sempre achei injusto ele não ocupar o lugar que merecia na história oficial. Existem várias teses, pesquisas e estudos sobre ele, mas estão apenas no meio acadêmico e ele é ainda desconhecido por muitas pessoas até mesmo em sua cidade natal (Serro) e na que ajudou a criar (Teófilo Otoni).
Ele também está sendo esquecido em Ouro Preto e no Rio de Janeiro, onde viveu grande parte da vida e foi um ídolo popular. Vamos abordar todas as fases de sua vida, passando pelos vários momentos históricos dos quais participou e destacando o legado que deixou para a nação brasileira. Com a publicação, espero que possa contribuir para que mais pessoas da região e do Brasil o conheçam. Quero que ele se some àquelas figuras importantes da nossa história dos quais já temos notícia.

- Quando o livro será lançado e como as pessoas terão acesso a ele?
NM – O lançamento será no início de novembro, para ajudar a divulgar a programação das comemorações. Estamos recebendo o apoio dos Correios, do Banco do Brasil, da prefeitura de Ouro Preto e de empresários amigos. Essa ajuda permitirá que o preço da produção seja barateado e que o livro possa chegar ao maior número possível de jovens, professores, comerciantes e principalmente à população da região.

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